Um dos maiores artistas francófonos da atualidade, se não for o maior a nível de mundo. Madàmes et Monsieurs com vocês Stromae!
Nosso artista ficou famoso em 2009/2010 com o Hit 'Alors on danse', uma música realmente pra ficar na história e assim que surgiam notícias sobre seu novo disco ficava a pergunta: Ele vai conseguir sobreviver e manter o sucesso? Sim, certamente o cara tem bala na agulha. Um verdadeiro empreendedor musical.
E o que dizer de Racine Carré? Bem, um disco promissor. Lançado em 19 de agosto de 2013, esse disco marca a continuidade do artista mas com um ar renovado, o que prova que ele é um artista competente. Dessa vez seu trabalho apresenta influência da música africana, uma percussão pesada, assim como os ritmos de Cuba e a rumba congolesa. Ele explicou mais tarde em um depoimento que "queria adicionar esses sons que ouvia durante sua infância nas festas de família, mas sem cair no clichê de um retorno às raízes. "Amo a África, mas cresci na Bélgica ".
Uma coisa é clara em Racine Carré, nele cada música nos faz vibrar de uma maneira particular, seja nas notas, seja na voz, ou pelas letras, Stromae nos transmite sensações de alegria ou de tristeza, às vezes melancolia, mas com um excelente desempenho. Embora os sons sejam em sua maioria eletrônicos, o que pode dar uma sensação de " um cd para dançar", temos sim um trabalho que como o anterior, possui um cenário pensado, um trabalho de pesquisa e um tanto de seriedade.
Stromae, é o principal compositor do álbum que abrange estilos musicais como o hip-hop, o eletro e o world. O álbum oferece uma lista de músicas dançantes, mas seus textos abordam assuntos sérios ou contemporâneos, a exemplo, de 'Moules frites' canção, que na primeira audição, parece leve, mas quando analisamos um trecho dela temos: 'Paulo aime les moules frites, sans frites et sans mayooo', "Paulo gosta das 'moules frites', sem fritas e sem maiô", que na letra original parece estar emn espanhol, em francês fica com o 'o' acentuado pelo circunflexo e na minha leitura se refere ao preservativo, que Paulo o personagem da música não usa e as frites, babatas fritas seriam as moças abordadas pelo mesmo, em outro momento dessa canção essa questão fica mais evidente, centrando-se no sentido das palavras, entendemos que se refere a AIDS, ou DSTs.
Os rappers Maître e Gims Orelsan colaboraram com a letra de sur le "AVF", que é a sigla de 'Allez-vous faire' ou em português 'Você vai para'. A faixa "Carmen" é uma adaptação da canção 'L'amour est un oiseau rebelle', (O amor é um pássaro rebelde), da ópera Carmen do compositor francês Georges Bizet.
Racine Carré aborda temas como a alienação causada pelas redes sociais, incluindo o Twitter nessa mesma faixa, os fabricantes de cigarros e o câncer na faixa "Quand c'est", os problemas entre os casais em "Tous les mêmes" e "Formidable", as relações entre os povos a nível Norte-Sul, que são abordadas em "Humain à l'eau", os excessos em "Ta fête, último single lançado e "Sommeil", uma de minhas preferidas. Um dos grandes hits do disco é "Papaoutai", canção-single que rendeu excelente repercussão à esse disco, apresentando-o ao público. Essa canção evoca a questão do pai ausente.
Ainda falando de "Ta fête", 1ª música do disco, joga com o duplo sentido da expressão. Ela se encaixaria como resultado de "Alors on danse" hit do antigo CD que descreve o que acontece uma vez que a festa acabou e ele tem que enfrentar a realidade do quotidiano. Essa música é contagiante e a batida electro se mistura à guitarra africana, boa demais. Tão boa que virou o último single do CD e conseguiu representar a Bélgica como hino nacional da Copa de 2014 naquele país. Uma forma excelente para divulgar esse single.
Seguido a análise do disco, nos deparamos com Bâtard(bastardo em português), faz referência a Jacques Brel quando ele canta "Haa, perdão, o senhor não toma partido", Ele denuncia a falta de um posicionamento e das divisões da sociedade em 'castas' evocando o racismo, assim como a homofobia e o sexismo. No refrão, ele continua: "Nem um nem o outro / Bastardo, você é, você foi, e continuar a ser/ Nem uma coisa nem outra, Eu fui, eu sou e continuarei eu mesmo. "
O título do álbum se justifica, segundo o próprio Stromae como significando 'Racine', raiz e 'carrée', quadra, raiz quadrada então, ao mesmo tempo que faz referencia aos números, ao digital, à contagem numérica de nossos tempos e seu gosto pelas formas geométricas. Segundo ele, "fazer música é como fazer contas".
Bem interessante! Bem pessoal, é isso. Confiram Racine Carré e digam se realmente valeu a pena. E como avaliação final vos digo, que foi muito bom beber dessa mistura, cada vez mais rara nos dias de hoje que esse disco traz, principalmente quando avaliamos essa música pop insípida e peculiar da atualidade. Stromae é realmente um maestro, um artista com um talento inegável, capaz de nos fazer vibrar com treze diferentes maneiras, em treze faixas.
Ele nos dá prazer em ouvir música eletrônica, com instrumentos reais, cantada em francês, um 'a' mais' num cenário musical dominado pelo inglês. Para mais novidades visitem seu site oficial Aqui ou seu Facebook oficial Aqui. Abraços do Monsieur Ribah ;-)
Confiram Racine Carré Aqui
Deem uma conferida em Papaoutai